Mar. Como a-mar. Um gelo que se desfaz e que tolhe sentidos.
Que olha nos olhos e os mareja. De mágoa. E sal. De maresia.
São olhos marejados. De mar. Como a-mar. Um esmorecer do
tempo e dos sentidos. Como vento. Como sombra. Como sobra.
Olhos magoados. Mágoa que se faz dor e mata. Mar. Maré. De
ilusão poente, sob os raios do final da vida.
Mar. Como a-mar. Há mares no teu nome. E identidades frouxas
entre os teus dedos por não os dares a ninguém. Como se os traços das mãos
fossem desenhos criados pelos depojos do tempo e quisesses lê-los de trás para
a frente, numa demanda por ouro e especiarias.
Mar. Como a-mar. Só que com ondas que se fazem espuma em vez
de ansiedade. E agruras que dispersam. E algas em vez de alguéns. Algures.
Além. Uma espécie de céu que se reflete e é só chuva e que se liberta apenas
para se prender de novo nos enleios de insanidade.
Mar. Como a-mar. Uma infinitude desfeita. Que embate contra
margens de concreto e nelas causa desgaste. O erodir da alma sob correntes
frias de desolação. E nelas nadam promessas que não serão cumpridas, boatos que
não serão verdade e opiniões que ninguém pediu. São corais secos, empetrecidos
e cinzentos, que abrigam memórias e desalentos de tempos e histórias e tempos
sem história e histórias sem tempo.
Mar. Como a-mar. Olho. Pergunto quem é. Mas não sei quem
sou. E, como não há resposta, fico-me a perguntar se, lá no fundo do mar, há um
espaço para mim. Para a-mar. Como em mar. Mas feliz.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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