terça-feira, 22 de agosto de 2017

Acho que prefiro a solidão



Acho que prefiro a solidão. Ela pode ser crua, mas não é cruel.
Dar a mão ao vento ou dá-la a alguém que a aperta, que a larga. Que a recebe e a usa como guia na cegueira. Só. Sem que outro motivo se encontre nesse ato. O de dar as mãos. Seguir o vento. Antes o vento. Até ao abismo que leva ao mar. Até ao mar que não fere a alma.
Acho que prefiro a solidão. Ela pode ferir mas não infeta.
Sentir o corte. O frio cortante da água desse mar. E dar o corpo à sensação. Do toque das águas. Ou dá-lo na cama. Ao calor. De abraços que viram correntes e nos arrastam para baixo. Sempre. Afogar no fogo e morrer quando a perda de fôlego se transforma em sufoco e nos impede a vida. Uma dor que é oceano.
Acho que prefiro a solidão. Ela pode doer mas não massacra.
O olhar do sol que nos faz rasgos argilosos na alma. Sentir o moldar do tempo, feito de barro, nos nós dos dedos que se apertam no vazio. Ou o olhar de alguém que um dia nos vê mundo e, no outro, nos vê no mundo. E depois nem nos cantos concretos do nada ou nas ilusões da plenitude.
Acho.
Acho que prefiro a solidão. Ela pode matar, mas não tortura.
Sonhos cadentes nas estrelas que se alinham pelos traços da mão onde a sina cigana se leu. Eternidades de incontável desespero, que é galáxia sempre em torno de nós. Um desapego que se faz universo. Ou universos nas mãos do amor que se torna sonho maior. Alfa. E destrói o que fica fora dos meandros do seu controlo afetivo. Efetivo. Um medo que não se diz e que tem pernas e braços e lugares que nunca serão visitados. Além dos limites da vida. Além dos limites do tempo.
Acho que prefiro a solidão. Ela pode ser triste, mas não é miserável.
Ela pode ser mácula mas não é rasgão.
Ela pode ser linha, mas não é rasura.
Acho que prefiro a solidão. Ela pode ser sozinha. Mas não é só.

Marina Ferraz


*Imagem retirada da Internet




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