terça-feira, 14 de março de 2017

Humor inteligente



Aviso: O texto que se segue contém linguagem forte que pode ser considerada imprópria e/ou obscena.



No riso fácil. A rir porque os outros riem. Sentam-se idiotas em cadeiras. Aplaudem de pé. No fim. E vão com sorrisos para casa. Se era humor? Era. Inteligente? Não sei. Porque foi fácil o riso descomprometido nas temáticas que se contorceram por entre as paredes de frases feitas e asneiras mais ou menos agressivas. Defendo. Hoje. Essa forma de humor. O humor para idiotas. Esse. Porque sejamos francos… ninguém entende o humor inteligente.

Claro que a desmistificação conceptual das ideias pré-feitas, pré-concebidas e pré-divulgadas causa um qualquer transtorno nas mentes pré-brilhantes. E é fácil o riso na ideia de que é ridículo. Quando olhamos as classes e as reduzimos a estereótipos. A loura burra. O preto ladrão. A fufa feminista. O gay afemininado. Tem piada. Para dez por cento da sala pelo senso completo de ridículo que medeia o estereótipo. Para noventa por cento da sala porque pensam “é mesmo assim”. E tem piada. Suponho eu. A menos que se seja loura, ou preto, ou fufa ou gay…

O humor inteligente fere. O humor para idiotas não. É muito engraçado falar na cona da Maria, que abre de segunda a sábado e fecha aos domingos para ir à missa. Claro que, para alguns, é engraçado pela noção beata do que se faz de hipocrisia pelo mundo da religião. E para a maioria é engraçado ouvir falar da cona da Maria.

Vamos caminhando. De mãos dadas. São muitos idiotas a acharem-se inteligentes e muitos inteligentes a acharem-se burros. Esta, em si, é uma piada que não se conta. Mas vive-se. Mesmo fora dos serões de anedotas. E as piadas sobem as paredes da nossa carne. Fazem piruetas nas nossas cabeças. E dizem alto. Em tom de enunciação. Rir é o melhor remédio.

Talvez seja. Rir. Um remédio. Mas o estereótipo é uma doença. E cada vez que nos rimos da loura que acha que dois testes de gravidez positivos significa que está grávida de gémeos; estamos a dizer a um patrão que, se contratar uma rapariga loura para secretária, terá, provavelmente, os envelopes arquivados e as cartas recicladas. Cada vez que nos rimos do gay no Titanic que não sabe se deve entrar no bote das mulheres ou no dos homens, estamos a obrigar a sociedade a confundir noções de sexo, género e sexualidade. Cada vez que nos rimos porque branco que corre é atleta e preto que corre está a fugir da polícia, perpetuamos o medo social com base na raça. Mas tem piada. Não tem? Claro que tem! Vamos todos rir muito alto. Desse remédio. Porque ele vicia. E nos protege das agressões quotidianas do bom senso, não vá ele penetrar a pele e atingir algum órgão vital!

Viva! O humor para idiotas! Esse que provoca convulsões no rosto e dores na barriga. E vivam os que não entendem a ironia dos seus sentidos mas gostam de ouvir a palavra “caralho” e “foda-se” no fim das frases.

O humor inteligente. Essa forma de piada que se esconde das pessoas. Francamente! Não posso defendê-lo. Vale apenas que todo o humor inteligente seja, também, humor para idiotas. Porque, esta é a maior piada de todas: o humor é só humor. Inteligentes e idiotas são as pessoas que o ouvem. Numa sala em peso que ri, não rimos todos do mesmo. E não levamos todos o mesmo para casa.

Alguns levam desconfortos colocados nos risos. Outros levam casualidade e palavrões nos lábios. Cada um leva, do outro, o que transportava já. E são muitos ódios, muitas noções falsas, muita leviandade carregada nos corações que riem.

Hoje defendo. O humor. Para idiotas. Uma salva de palmas a todas as “conas”, “caralhos” e “foda-se” que causam uma sensação de eufórico contentamento e impedem (algum)as pessoas de ler nas entrelinhas as coisas que não têm piada nenhuma. Como a morte da equidade. Em cada palavra.
Aplaudamos de pé!


Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet



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