É um tremor no corpo. Que se estende, fluído e demorado, em
cada poro. Faz bater mais forte o coração mas não o move. E não o condena. Não
é como o amor. É um deserto de coisas por sentir que se estende dentro da
ilusão da plenitude. A vontade permanente do que vem a seguir à última página
de nós.
Querer saber. É um querer saber que não quer saber de nada,
nem mesmo de si. E que provém da mais breve migalha de história. Ninguém sabe a
história. E ninguém sabe porque é que existe esta vontade de saber o que fica
nas entrelinhas entre o tudo-quantificável e o nada-inimaginável que nos tende
a vida.
É uma ilusão. Mas tudo é uma
ilusão, contando que se tenha no olhar ainda um pouco da criança que se foi. E
essa ilusão vem, tardia e descontente, iluminar as trevas do pensamento que
cresceu e se fez homem.
Não é infelicidade, mas não é
feliz. Não é desespero, mas não é calmo. É um tremor no corpo que continua. Não
passa. Não esmorece. E magoa o espírito que trazemos dentro. Magoa o coração.
Esse que nos põe nas mãos, na boca, na barriga. Há batimentos compassados em
todo o lado. Como pequenos relógios a tiquetaquear pelas veias, na esperança
(certamente infundada) de haver uma hipótese em mil e de a termos agarrado.
É inesperado. E não tem nem um
laivo se subtileza. Ataca sob o sol. Debaixo da luz. À frente de quem quer que
seja. Quer ser tudo o que não é. E, talvez por isso, vive numa constante
vontade de deixar o presente e saltar para o futuro. Mas o futuro faz-se sempre
presente. E é sempre de olhos no horizonte, nessa busca pelo impossível, que
ela se torna amarga.
É um tremor no corpo. Trespassa a pele. Vem sem avisar. E
acelera o mono existencial que trazemos no peito, como quem traz promessas
inaudíveis. Não. Não é o amor. Não poderia, jamais, ser o amor, embora venha
muitas vezes à sua conta, preencher os espaços em branco das demoras. Tem
muitos nomes, a idade do pensamento e redime-se todos os dias no choro da
imortalidade.
Não importa por que motivo vem. Acaba sempre por vir
cumprimentar as gentes. Não se importa com a idade, o género, a posição social.
É cega e dá-se a qualquer um, nas avenidas onde se vendem afectos ao preço do
ar. E enquanto agita as almas descontentes, numa busca feita de devaneios,
caminha, passo a passo, rumo ao abismo.
Hoje, escolheu-me a mim. Dou-lhe a mão e vou com ela. Vou.
Vou sem saber se avanço na direcção do sonho ou do abismo. Vou. Vou e descubro.
Caímos juntas. Eu e a ansiedade. Havemos de cair tantas
vezes que, um dia, talvez ela se erga sozinha, deixando-me no chão das desilusões.
Mas não hoje. Hoje, levanto-me com ela. Tenho mais uma cicatriz. Mas está tudo
bem. Sorrimos uma à outra. Ambas sabemos: cair não é mais do que voar por uns
segundos.
Marina Ferraz
Esse texto me define *-* "cair não é mais do que voar por uns segundos"
ResponderEliminarPerfeito *-*
Parabéns querida,beijinhos Jenny ♥♥