Disseram-me que o céu não era sempre azul. Assim. Com o
jeito de aviso terno. Com a amargura de quem desejava dizer-me outra coisa.
"O céu não é sempre azul, menina". Mas eu ripostei: "Talvez não
seja, mas o sol brilha sempre...".
Explicaram-me, depois, que o sol amua sob as nuvens
cinzentas. Que, por vezes, chora e chove. Que as ruas se inundam. Que faz frio.
"O sol não brilha sempre", disseram. Não acreditei mas respondi.
"Talvez o sol não brilhe, mas haverá sempre sorrisos quentes".
Disseram-me, num tom ainda mais triste, que estava errada.
"Não, menina, por vezes o sorriso amua, como o sol e, não podendo chover,
chora. A tristeza invade os recantos da alegria. A dor sobrepõe-se à vontade de
sorrir...". Suspirei, num encolher de ombros. "Talvez os sorrisos
escureçam, mas haverá sempre quem nos limpe as lágrimas". De novo me
negaram.
"Como podes pensar assim?!", perguntaram, "As
pessoas partem, desiludem, abandonam. Ficam as lágrimas e a solidão,
companheiras de infância eternas e inseparáveis".
Assustei-me com a mágoa das vozes que me explicavam o mundo
mas não deixei que me quebrassem. "Talvez a solidão venha", admiti,
"mas haverá sempre um sonho". Abanaram veemente a cabeça,
desiludidos, como se eu não entendesse a vida ou o mundo.
"Não, menina... quando a vida se move contra as
vontades do mundo também o sonho se esvai, esbate e, nas entrelinhas da mágoa,
desaparece". Bati o pé. Não acreditava na morte do sonho mas dei-lhes a
dúvida. "Talvez", disse, enquanto acrescentava: "Mas haverá
sempre o amor."
"O amor?!". A descrença das vozes fez quebrar o
chão sob os meus pés. Interrompi-os: "Sim! Dirão que o amor faz sofrer,
chorar, que leva à solidão. Que depois dele, nem silêncio nem azul, nem sol nem
chuva. Mas o amor... o amor vai estar. Terei sempre o meu primeiro amor. Aquele
que vem de dentro e me faz crer em céus azuis e sóis atrás das nuvens. Aquele
que me faz saber que vou sorrir ou que, se chorar, alguém me limpará as
lágrimas. Aquele que me faz lutar pelo meu sonho, mesmo quando a vida se volta
contra as vontades do mundo e todos o julgam irreal. Aquele que me dá nuances
de fantasia por entre os entraves da realidade. Terei sempre o meu primeiro
amor. Aquele que me faz olhar ao espelho sem medo de encontrar o vazio e que me
faz lutar pelas coisas em que acredito.
Não importa o que me digam. Terei sempre o meu primeiro
amor. Um amor que vem de dentro, está em mim, vive e permanece nos recantos
incontestáveis do meu corpo, da minha alma, da minha mente. Este é um amor
maior que suplanta as vossas palavras. Um amor que suplanta os medos e as
dúvidas. E é por isso que sei que haverá sempre céus azuis, sóis a brilhar,
pessoas que valem a pena, sonhos reais e amores eternos. Porque podem vir as
nuvens, as tempestades, as lágrimas, o abandono, a solidão, a guerra e a morte.
Mas terei sempre, sempre o meu primeiro amor.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Amei esse texto,cada afirmativa rebatida e cada nova proposição,a amargura X a crença em belezas da vida e,finalmente o amor,o único sobre o qual sabemos muito e não o explicamos. Só o amor...
ResponderEliminarParabéns querida :)
Beijinhos Jenny ♥