segunda-feira, 7 de abril de 2014

O meu país



O meu país está de luto. As pessoas já não se cumprimentam rua. Ninguém sorri. Os olhares sisudos e cinzentos perdem-se no sujo do passeio e os pensamentos vagueiam, em fossas tão profundas que se quedam nos olhares e trespassam as pedras da calçada.

O meu país de está de luto. Crianças pedem esmola perante os olhares indiferentes dos mendigos de classe média. E os ricos ficam em casa, na escravidão metálica do dinheiro porque é mais seguro assim.

O meu país está de luto. O meu povo vestiu as faces de negro e a alma de trevas. E não há cor nas expressões pesadas de quem se cruza connosco nas ruas da amargura.

Olhando para o meu país não vejo chegar Abril nem vejo cor nem cravos. Não vejo vontade. Mas também não vejo aceitação, esforço, solidariedade. Olhando para o meu país vejo apenas o negro de pessoas com olheiras negras a caminharem em ruas de iluminações cortadas por falta de verbas.

O meu país está de luto. Aprendeu a viver com os rostos fechados e as mãos abertas e vazias. Aprendeu a viver sem esperança e sem consolo. O meu país está de luto porque morreu a alegria de acordar de manhã. Porque morreram os sorrisos das crianças. Porque morreu a liberdade de escolha. Porque morreram os sonhos. Então, o meu país cinzento deixa pessoas cinzentas viver no negro de não saber o que vem depois.

Caminhando pelas ruas, é isso que vejo. Pessoas a afundarem-se no negro de si para não verem a escuridão alheia. Pessoas de sorrisos gastos que deixam os lábios desaparecer em linhas severas. Pessoas que já não sabem que são gente. E caminham todos no seu luto transparente de olhos no chão. O sol que brilha acima não os aquece. O horizonte ficou esquecido. O meu povo fundiu-se com o negro das ruas mal iluminadas. E o meu país?!... o meu país está de luto!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet



2 comentários:

  1. Anónimo18:53

    a sua maneira de ver a psique humana é muito realista...grande poetisa.

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  2. Josélito Santiago15:24

    Texto muito bom!!! Adorei ler.

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