terça-feira, 1 de abril de 2014

À espera


Tu estás à espera do tempo. Como se o tempo fosse construir as pontes certas ou determinar um ponto na linha de começo de uma nova história. Estás à espera do momento em que as estrelas se alinhem e os planetas se cruzem, para o mapa ser certeiro e a hora exacta. Estás à espera que os ponteiros se alinhem com as vontades divinas e o horóscopo pendente de um jornal qualquer.

Tu estás à espera do tempo. À espera que a fortuna te bata à porta e que o sucesso te defina. À espera de te encontrares nas estradas do mundo e de esgotares todas as formas de divertimento. À espera de teres experimentado mais do que a vida tem, de teres conhecido mais pessoas e mais universos. Tu estás à espera que as marés te arrastem e os ventos te puxem numa direcção. E vives no medo de que os portos em que ancoras sejam na verdade as ilhas do naufrágio.

Tu estás à espera do tempo certo para parar. Como se a viagem não pudesse ser feita senão na solidão de companhias fúteis e descartáveis. Como se os teus passos se atrasassem no desejo de encontrar algo diferente do que aquilo que idealizaste. Tu estás à espera das vontades que superem a tua. Como se a tua vontade fosse sobre-humana mas não bastasse. Como se precisasses de umas mãos invisíveis que te pusessem no caminho do teu destino.

Mas eu vou contar-te uma coisa que ainda ninguém te contou: o destino é teu. O único lugar onde ele te vai levar, se estiveres à sua espera, é até ao ponto de partida de onde nunca saíste. Tu estás à espera do tempo. Eu estou à tua espera. E o tempo certo não existe. Algures, por entre esta confusão de esperas e desesperos, estamos os dois parados em lados opostos da estação, a ver passar a vida e o mundo.

Tu estás à espera do tempo e eu não tenho tempo para esperar nada da vida. Algures, entre palavras e tarefas, eu vivo no limiar entre a vida e outra coisa qualquer, que não é vida mas finge ser.

Tu estás à espera do tempo. Eu estou à espera de ti. E, enquanto o tempo não vem, vivemos neste compasso sem sentido, à espera do impossível. Quando dermos conta de nós, teremos os rostos marcados pelas linhas do Outono e as mãos cansadas de agarrar a esperança. Quando dermos por nós, estarás à espera que o tempo volte atrás e eu estarei à espera da morte.

Entre a espera e o desespero, neste Universo de sentidos que não fazem sentido, a guerra é ganha pelos ponteiros do relógio. Porque eles avançam. Não estão à espera de nada. Não estão à espera de ninguém. Eles sabem melhor do que nós que mais vale andar em círculos eternamente do que nunca ir a lado nenhum.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

3 comentários:

  1. LINDO ADORO TEUS POEMAS ...ENTRO EM CENAS AO LER E ME ENTREGO AOS DELIRIRIOS DE CENAS TÃO ILOQUENTES FACINANTES... GOSTO DE SENTIR TEUS CENARIOS E VIVO OS AO LER... BJO

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  2. Jennyfer Aguillar21:00

    Incrivelmente perfeito. Principalmente a parte final " Eles sabem melhor do que nós que mais vale andar em círculos eternamente do que nunca ir a lado nenhum." .
    Parabéns querida. Está em minha lista de preferidos.
    Beijinhos Jenny ♥

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  3. llirio Campo22:25

    Ohh lindooo amoooo esta poesia,que delinha a alma.

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