quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Regresso

Um dia regressas. E quando chegas a casa, vês apenas as ruínas do que outrora foi o teu jardim, o teu pátio, a tua sala e o teu quarto. Aí, tentas visitar os amigos mas eles morreram. Morreram todos. Porque a juventude que te corre nas veias não é a mesma que corria nas deles e eles cederam. Não tinham tempo para viverem a mesma vida que tu.
Um dia regressas, como eu regressei. Olhas para o sítio onde te sentavas a ler romances, debaixo daquela árvore verde e frondosa que agora é um ramo seco e partido. Esperas ouvir o rio, mas ele secou e tem o cheiro pútrido e imundo que preenche toda a tua cidade.
Um dia regressas. Regressas e ficas à espera dos braços que te vão envolver, dando-te as boas vindas. Tudo o que encontras são pessoas a correr desvairadas, levando-te de assalto a bolsa de memórias que trazias ao ombro.
E, cansada do mundo que os teus olhos te devolvem, sentas-te na pedra fria do chão e choras. Porque o mundo não foi justo contigo e tu não foste justa com ele. Então, desejas ardentemente partir. Não podes! Não tens para onde ir agora, porque essa era a tua casa. Mas tu foste embora e a culpa é toda tua…
Um dia regressas. E olhas as tuas mãos, enrugadas e frias. Sentes o ardor da garganta velha e as dores no corpo.
Um dia regressas. Regressas porque partiste. E quando regressas percebes, finalmente, que voltaste apenas para morrer. Para poderes morrer na paz do teu passado destruído.

Marina Ferraz
*imagem retirada da Internet

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