segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Beleza

Corria-lhe a eternidade nas veias. E o pulsar acelerado do seu coração parecia uma balada desfeita em mil notas de promessas.
A pele nua reflectia as nuances claras do luar e os cabelos eram um rio sem fim nem rumo, correndo para o lugar em que o sonho e a realidade não têm fronteira.
Então, naquele momento, ela era bonita. O coração batia. Os olhos tinham o brilho da esperança. E a pele ardia sob a chama sempre acesa de uma paixão.
Os beijos alimentavam-na de esplendor e a subtileza dos seus movimentos era como a dança mais perfeita alguma vez criada por mão divina.
Morava no seu peito o desejo de viver para sempre. Queria acordar de juventude e pôr um sorriso na tez perfeita. Correr o mundo de felicidade. Dormir nos braços do contentamento.
Havia mais do que perfeição nos seus traços. Havia mais do que mera beleza no seu rosto de marfim. Era como se o mundo tivesse parado para se curvar a seus pés. Como se o toque que sentia aflorar-lhe a pele fosse eterno. E a sua beleza dependesse desse toque e pudesse contagiar o Universo.
Nenhuma estrela brilhava mais do que ela. Ela era a expressão mais pura da beleza. Porque estava apaixonada. Porque acreditava no amor. Porque ele olhou para ela durante dois segundos e lhe sussurrou ao ouvido: “És tão bonita!”.

Marina Ferraz

*Imagem retirada da Internet

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sentimento


As noites são todas iguais. Até para mim. Até para mim que, um dia, reconheci que cada noite era única. As noites são todas iguais.
São todas escuras e vazias. E não têm estrelas. Não têm luzes de Natal. São o espaço entre o nada de hoje e o nada ainda maior de amanhã.
E todas as noites eu penso em ti antes de dormir e profiro uma prece muda. Uma prece muda que chora como se o abismo estivesse à espera, assim que os meus olhos se fechassem.
As noites são todas iguais. Acabo sempre à procura da morte nas sombras dos meus sonhos. E acordo para o dia desejando a noite seguinte. Uma noite que será como todas as outras e na qual procurarei a saída da escuridão que não passa ao amanhecer.
As noites são todas iguais. Tenho medo da noite. Medo de dormir, medo de imaginar que te tenho nos braços, medo de acordar e voltar aos dias. Aos dias que são dor, cansaço e solidão. Aos dias que são noites de luz sem sentido. Aos dias que também são todos iguais desde que foste embora.

Marina Ferraz