quinta-feira, 19 de abril de 2007

Calada












Por algum motivo falhou-me a voz, emudeci como se não houvesse mais nada a fazer. Vi-os roubarem-me o chão que pisava e o ar que respirava como se deles eu fosse indigna, como se não os merecesse.
Calada... como se não houvesse um grito na garganta querendo sair e ecoar pelas paredes vazias desta vida.
Deixei-me ficar quieta e muda. Em vez de dar de mim, de lutar por aquilo em que acredito, pelos meus sentimentos, deixei que a vida corresse como um rio mesmo querendo ir contra a corrente.
Não fiz nada que os impedisse, nada que os fizesse pensar um segundo antes de me roubarem a vida.
No meio do meu cobarde silêncio, quedei-me a seus pés, como que fazendo vénias a quem me tinha magoado.
Deixei-me ficar assim... não quis saber de nada!
Fiquei calada, tão calada que me esqueci das palavras, tão calada que selei os meus lábios para sempre.
Hoje, tudo o que quero dizer mora no coração mas já passou demasiado tempo, já é tarde demais e por isso vou continuar calada, à espera que um dia, no derradeiro dia, talvez, uma última palavra saia por entre os meus lábios cerrados e diga, finalmente, tudo o que, por medo, jamais consegui dizer.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet